Diários de extranjera #1: o medo de fazer papel de ridículo


Depois de muito pensar sobre essa Newsletter, acabei percebendo uma coisa sobre mim.

Eu sei que sou o tipo de pessoa que pensa demais, mas minha hesitação em colocar em prática as coisas que penso é diretamente proporcional à minha idade. Conforme fui envelhecendo e me tornando adulta, minha capacidade de transformar pensamentos em ações diminuiu. Parece que, a cada ano que passa, fico mais presa dentro da minha mente, e é mais difícil lutar contra o medo de tudo dar errado.

E se as pessoas me acharem ridícula? E se ninguém estiver mais interessado no que tenho a dizer? E se flopar? E se eu não conseguir dar conta e abandonar (de novo) mais um projeto?

E se eu, na verdade, for uma fraude?

Eu sei. Eu estou me sabotando. Venho me sabotando já faz alguns anos e pulo de galho em galho, de cidade em cidade, garantindo que "dessa vez vou me reinventar e tudo vai ser diferente!". Mas é muito difícil romper com velhos hábitos. Principalmente quando você se acostuma a se atrofiar, a se silenciar por um motivo que já nem se lembra mais.

Esses dias estava lembrando de como eu era na adolescência. Não me entendam errado, fui uma adolescente extremamente angustiada e infeliz, embora ninguém percebesse. No momento em que entrei na universidade e comecei a me tornar adulta, me libertei de muitos demônios, mas acabei ganhando outros. Tem um tipo muito específico de coragem que a gente só encontra no brilho dos olhos dos inocentes, das pessoas de alma ainda ingênua e que acreditam que podem, sim, mudar o mundo. Ser uma alma ingênua requer muita firmeza de espírito. O mundo o tempo todo tenta nos desencorajar e nos mostrar "aí, tá vendo, você não é um floquinho de neve, não". A gente leva pancadas e precisa se adaptar ao sistema, precisa encontrar uma maneira de sobreviver enquanto tenta entender quem realmente somos, e se preocupa com dinheiro e sucesso, e se conforma em viver uma vida igual a de todo mundo porque já é cansativo demais ser uma pessoa funcional, quiça ir contra a maré.

A adolescência é um período cheio de angústias, mas os vinte anos... ah, os vinte anos são o verdadeiro caos. Às vezes um caos tenebroso, outras vezes uma dor de crescimento que te leva a momentos belíssimos. Mas ainda assim um caos.

Pra cada pessoa funciona diferente, é claro, e hoje, chegando no finalzinho dessa década, já conseguindo avistar a borda dos 30, eu consigo enxergar através da fumaça de confusão um pouco melhor. A primeira coisa que vi foi eu mesma me censurando ao longo dos anos, por um medo bobo de fazer papel de ridículo... para quem? por que me importar tanto com a opinião alheia, afinal? Será que passar todos os meus anos formativos, desde que eu tinha 15, publicando histórias online e dependendo do quanto as pessoas gostavam de mim e queriam ler meus livros para sentir que eu tinha valor, danificou a minha mente um pouquinho? Será que ter crescido durante o boom da internet e cair de paraquedas em redes sociais sem saber como usá-las de uma maneira saudável, e depois precisar delas para o meu trabalho, foi o que me deixou assim?

Não sei se tenho uma resposta para isso, mas não consigo parar de pensar que esse é o tipo de coisa que desejo deixar para trás. Não quero trazer comigo quando cruzar a linha das décadas, eu já tenho lixo demais amontoado que ainda não sei como expurgar. Mas isso... ah, com isso eu acho que finalmente sei como lidar.

Meu exercício diário ultimamente tem sido me reconectar com a pessoa que eu costumava ser. Como eu fui dura com a Bruna do passado, sabe? Como foi criminoso o modo como apaguei o seu brilho e a deixei perdida sem saber o que ser e como falar com pessoas sem morrer de ansiedade, sem se reconhecer ao ser privada de uma das suas características mais centrais: a espontaneidade criativa.

O que é o artista, afinal, sem sua liberdade de expressão? O que é o artista se ele mesmo é o causador da sua repressão? Está fadado a morrer assim, petrificado e esquecido como uma estátua grega no fundo do oceano, encontrado séculos depois e contemplado pela sua beleza estática, da qual nada nunca mais se desdobrará.

Mas eu ainda estou viva. E enquanto estamos vivos, precisamos agir como tal.

Esse ano começou catártico para mim por ser o ano em que completo 30 anos, mas também por ser a retomada do poder de mim mesma após meses de loucura quando voltei dos meus 2 anos morando em outro país, em um intercâmbio onde muita coisa aconteceu. É estranho não saber mais quem você é, mas ao mesmo tempo é uma oportunidade. Uma página em branco está ali para ser preenchida com o que você quiser, e se não gostar do resultado, é só começar um projeto novo.

A maior falácia da nossa juventude é acharmos que não temos tempo. De fato, jamais poderemos fazer tudo, mas o tempo é mais do que o suficiente para errar e recomeçar muitas vezes. E ao contrário do que parece, recomeços nunca são do zero. Você sempre será alguém com uma bagagem única, e conhecimentos únicos, e objetivos únicos que só existem porque viveu tudo o que viveu até ali. E tudo o que você será adiante parte disso.

Espero que essa newsletter introdutória faça algum sentido pra vocês. Talvez encontre alguém que esteja precisando ler isso. Minha mente, nesse momento, fervilha de ideias para compartilhar com vocês!

Aproveitem bem o feriado de Carnaval 🎉💞✨

Favoritos da quinzena

Música

Desde a virada do ano, ando extremamente viciada na SZA. Os 2 álbuns de estúdio dela são EXCELENTES e recomendo ouvir inteiros. Mas destaco as músicas Drew Barrymore, Seek & Destroy, Kill Bill, Love Language e 20 something.

Outras destaque IMPORTANTÍSSIMO são os dois singles que saíram da adaptação de Daisy Jones & the Six que estão impecáveis!!!! Tanto Regret Me quanto Look At Us Now (HoneyComb) me deixaram ainda mais empolgada pra ver a série baseada no livro da Taylor Jenkins Reid.

Outras indicações aleatórias porque não sei ser sucinta quando se trata de música: Not Another Rockstar da Maisie Peters, a versão de Ovelha Negra da Manu Gavassi com a Liniker, ceilings da Lizzy McAlpine e Foi Mal da Urias.

TV e cinema

Não tenho assistido muita coisa ultimamente, mas destaco a série The Bear. E também The White Lotus, cuja 2ª temporada foi minha favorita no fim do ano passado, fiquei obcecada assim como todo mundo no Twitter hahaha

Livros

Meu livro favorito até agora no ano foi Tratado sobre Tempestades e outros fenômenos extraordinários (Alquimistas, #1), da Isabelle Morais, pseudônimo da escritora Bárbara Morais. É um livro de fantasia focado mais nos personagens e com uma ambientação inspirada na Rússia. E os protagonistas são um trisal!!!! 🗣️ O livro é curtinho e tá disponível na Amazon, mas a Bárbara publica os capítulo da continuação em uma newsletter gratuita, saiba mais aqui. 

BRUNAVERSO

Na semana passada, comecei a publicar o livro "A crise Peter Pan", que faz parte do Clube do Brunaverso. Os capítulos são publicados semanalmente toda quinta-feira no meu site. Pra poder ler, basta virar membro do Clube através dos planos de assinatura do Catarse 💖 Em breve irei enviar os brindes de todos que assinaram o plano Cova Coletiva, e as cartinhas que prometi aos membros antigos!

Beijos e queijos,

Câmbio desligo.

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