Diários de extranjera #3: O legado dos Medina-Becker

Se você me segue no Instagram, provavelmente já está sabendo da novidade: eu finalmente estou trabalhando no meu livro "Submarino". Submarino inicialmente fazia parte da série Medina-Becker, que conta a história dos irmãos da família Medina-Becker em livros não-seriados, ou seja, você pode ler na ordem que quiser ou só os livros que quiser. Por muito tempo, a série Medina-Becker ocupava uma parte fundamental da minha vida, e não consegui pensar em nenhum outro tópico mais relevante para falar na newsletter de hoje.

Tudo começou em 2015, quando conheci o Wattpad. Eu vinha de uma longa ressaca desde que o Orkut acabou (sim, eu sou velha desse jeito haha), e por isso não tinha mais nenhuma plataforma pra publicar livros online e gratuitos. Até que surgiu o Wattpad na minha vida, e esse vazio se preencheu de uma maneira avassaladora. Decidi publicar uma história chamada "Sob o mesmo teto", que eu já tinha começado a escrever anos atrás (foram umas 40 páginas), mas achava que poderia ficar melhor. Então recomecei do zero, publiquei no Wattpad em abril de 2015, e minha vida mudou para sempre por causa disso.

Claro que eu queria que muita gente lesse o livro, mas não imaginava o sucesso que ele faria em tão pouco tempo. Em seis meses de publicação, SOMT já tinha mais de 1 milhão de leituras no site, com gente até mesmo de outros países lusófonos, como Portugal e Moçambique, acompanhando. Na época, eu tinha entre 21 e 22 anos, estava na faculdade, fazia estágio, mas o ponto alto da minha vida era ler os comentários dos leitores engajados e apaixonados. Eu lembro até hoje do ponto de virada que foi quando publiquei o capítulo 15 de SOMT (quem estava lá??), em que vivi minha própria versão de "quebrar a internet", só que no mundinho do Wattpad. Eu vivia constantemente embebida naquela magia de ter tanta gente interessada no que eu tinha para contar, na nossa juventude, no mundo inteiro se abrindo para mim. Às vezes eu acho que ter escrito SOMT e publicado no Wattpad foi uma das coisas mais transformadoras que fiz na vida, um pedaço dela que eu guardo em um potinho, sim, mas que determinou quem eu seria nos anos seguintes.

Por causa do sucesso de SOMT, senti coragem de fazer algo que sempre quis: ter uma editora. Eu e a Vanessa falávamos disso sempre, há anos, mas decidimos colocar a mão na massa quando vimos a oportunidade. Assim vieram as outras sócias, e assim também surgiu a Duplo Sentido Editorial (que merece uma newsletter só pra ela de tanta coisa que tenho pra contar sobre minha experiência na editora).

Eu também nunca tinha pensado que SOMT seria parte de uma série, mas enquanto escrevia, me via tão interessadas nos coadjuvantes, em todos aqueles irmãos que tinham também suas histórias para contar, e não fui capaz de resistir. Eu não queria dizer adeus àquela família, estava tão cheia de inspiração, que a ideia para "Sobre(O)postos" surgiu em um piscar de olhos. Eu tinha muito medo de que não fosse tão bem recebido quanto SOMT, mas acabou que ganhei um prêmio Wattys por SOMT em 2015 e outro por SOP em 2016. E toda vez em que penso na minha trajetória no Wattpad, esse pra mim foi o ápice e, a partir daí, a plataforma começou a decair. E a minha vida também começou a mudar de novo.

Eu acho que o maior desafio para me manter inspirada e acreditar na arte como um todo, é a vida adulta. Quando penso nos melhores momentos que tive com a escrita e com a publicação de qualquer coisa, era quando eu não tinha tantas responsabilidades, quando o mundo parecia mais leve, quando eu não ficava tão aterrorizada com a possibilidade das coisas darem errado porque não dependia tanto assim de ganhar meu próprio dinheiro. Ser adulto no momento do capitalismo em que vivemos, é desconcertante. Aniquila nosso tempo, nos treina para pensar somente em produtividade e nos deixar exaustos, esmaga também nossos sonhos mais subjetivos, que é onde vive a arte. Escrever enquanto ofício em um mundo hostil que não valoriza isso, e por esse motivo obriga o escritor a ter outros trabalhos também, faz as cores irem diminuindo até tudo começar a ficar meio que em preto e branco.

Pra mim, os Medina-Becker sempre foram uma explosão de cores. São histórias que me fazem sentir bem, pois me conecto tão rápido e tão fácil com os personagens que tenho plena certeza de que eles sempre fizeram parte de mim. Eu passei por muitas crises ao longo dos meus vinte anos, até mesmo demorei bastante para escrever Superlativo, o terceiro livro da série, porque não conseguia dar conta de fazer tudo que precisava fazer e ainda escrever o livro que eu achava que os personagens mereciam. Eu me atrasei e fui abarrotada de responsabilidades e de sonhos que se tornaram realidade de um jeito decepcionante, e relações que implodiram completamente, e percepções novas sobre mim mesma na minha jornada pelo autoconhecimento. Penso que, talvez, eu precisava passar por tudo isso para escrever Superlativo, pois é o livro mais catártico que já escrevi. A pessoa que eu era está impressa nas palavras daquela história, tão palpável toda vez que leio um trechinho dela, ciente de que usei o livro como um desabafo. E quando ele finalmente foi publicado, eu sabia no meu coração que ele era um tipo de encerramento.

Acabou sendo o encerramento daqueles anos do início dos meus vinte anos, em que eu estava focava em evoluir como profissional e ganhar experiência. O encerramento de uma história linda e avassaladora que tive com o Wattpad, e com a escrita em si, com a minha produção artística. Encerramento da minha passagem pela Duplo Sentido Editorial, pois decidi deixar a sociedade quando percebi que queria fazer coisas diferentes. Encerramento também da minha vida no Brasil até então, pois no ano seguinte fui ser AuPair nos EUA, e minha intenção era deixar a escrita de lado por um tempo. Eu não contava com a pandemia, que acabou me fazendo usar a escrita como válvula de escape, mas no ano seguinte consegui me desgarrar de tudo e viver meu intercâmbio sem pensar em mais nada, como sempre foi a minha vontade.

Então, por mais que eu ainda quisesse escrever Submarino, aquele ciclo que a série Medina-Becker abriu, tinha se fechado na minha vida. Por escolhas minhas e também por motivos totalmente fora do meu controle. Quando penso na série Medina-Becker, penso nesses três livros que me deram tantas experiências inestimáveis e também moldaram a pessoa que eu me tornei, acompanhada dos personagens que amo. Eles foram minha casa por muito tempo, meu senso de conforto e alívio, o momento em que eu podia relaxar e vomitar minhas frustrações, meus desejos, minhas reflexões. Mas como todo filho que um dia cresce e sai de casa, eu também cresci, e tudo que eu fizer a partir de agora, faz parte de uma fase nova.

Foi por isso que decidi que Submarino não seria mais o quarto livro da série Medina-Becker, mas sim um livro sobre dois personagens que, por acaso, fazem parte da família sobre a qual a série Medina-Becker conta. A série é o que vem antes de Submarino, e sempre será a raiz de tudo que me tornei enquanto escritora, sempre serei muito grata a ela e a quem chegou na minha vida através dela, mas é hora de seguirmos adiante! E eu posso sentir em mim a esperança de que essa nova fase trará bons momentos.

 

Favoritos da quinzena


Música

Eu tô numa crise fonográfica e estou de saco cheio de praticamente todas as minhas músicas! Help! Me indiquei músicas que vocês achem que eu vou gostar, quero muito conhecer novos artistas.

Apesar disso, nessa quinzena ouvi bastante Point of no return da Lana Lubany, I might das Lennixx (são uma dupla e uma delas é irmã da Zara Larson), e Midnight City do M83. Sério, me indiquei músicas!!!!


Livros

Não li A pequena coreografia do adeus nessa quinzena, mas um pouco antes. Mesmo assim, vou indicá-lo aqui porque não indiquei antes e achei um livro lindíssimo. Tenho algumas críticas (que estão lá no meu Instagram), mas de modo geral vale muito à pena ter essa experiência de leitura. Aline Bei tem uma narrativa fantástica!

Séries

Vocês acharam que eu ia indicar Daisy Jones and the Six né? hahaha mas infelizmente achei a série decepcionante ): eles mudaram aspectos do livro que, embora não seja errado, porque o livro é MUITO passível de interpretação por ter narradores não-confiáveis, não me agradaram muito. Mas ontem voltou Ted Lasso e hoje voltou Shadow and Bone, duas das minhas séries preferidas!!!!! Estarei o dia inteiro assistindo.


BRUNAVERSO


Bom, essa newsletter inteira foi sobre o Brunaverso, né hahaha no momento eu tô terminando umas pesquisas importantes pra escrever Submarino. O Leo é nadador profissional e esse é um dos tópicos do livro, então tô focando em entender melhor esse mundo. Mas vou atualizando vocês em tudo pelo Instagram, eu tô MUITO empolgada!!!!

No mais, o ebook da série Medina-Becker tá em promoção na Amazon, mas só até domingo. Compre aqui.

Lembrando também que os capítulos de "A crise Peter Pan" são publicados semanalmente toda quinta-feira aqui no site. Pra poder ler, basta virar membro do Clube através dos planos de assinatura do Catarse 💖

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